segunda-feira, 30 de março de 2009

Eu sou assim, mas é sem querer

A vida parece ser uma eterna briga entre o que você é e o que os outros desejam que você seja. Sei que esse assunto parece esgotado, mas aí que está. Quando ninguém quer mais falar sobre algo amplamente discutido é hora de trazer a discussão de volta. Não pretendo me ater à filosofia, pois com certeza a minha cabe num copo de geléia do boteco da esquina. O que me fez refletir sobre o desejo da maioria que você não fuja do lugar-comum foi meu aniversário de 40 anos. Falam da crise dos quarenta, mas juro que não senti nada de tão especial assim. Porém confesso que minha emoção foi às nuvens ao ver as homenagens criadas pela minha "Poeta-Maior", minha mãe. E os textos maravilhosos da minha querida madrinha e dos meus irmãos. Eu, que adoro frases de efeito, fiquei durante muitas horas sob o efeito daquelas palavras tão lindas e inesquecíveis. Aquela frase babaca que aparece no final de cada fita de vídeo "A vida é feita de momentos, o vídeo as eterniza" me soou naquele momento como uma verdade profunda e inapelável. Tudo bem, não era sobre o meu aniverário que eu queria falar. Na verdade, ainda estou emocionado com o talento da minha mãe e a sabedoria do meu "Filósofo-Maior", meu pai. Eles estão prestes a completar 50 anos de casados, o que, convenhamos, é um verdadeiro milagre nesses dias de tantas solidões sozinhas ou acompanhadas. Falo dos meus pais, porque eles contrariam o que penso sobre a vida a dois. Falo deles, porque quem os conhece sabe que parecem um casal de adolescentes apaixonados. Eu, melhor que todos os meus irmãos neste ponto, porque saí de casa para morar sozinho aos 38 anos de idade, sou testemunha de um amor que precisaria de um Shakespeare-Apaixonado para reproduzi-lo. Como estou longe de sê-lo, prefiro dizer apenas que não conheço outro igual. Quando eu tinha 15, 17 anos, queria encontrar e viver um amor assim. Mas com o passar dos anos, a vida foi me mostrando outros caminhos, inclusive o meu. O que quero dizer e precisei de todas essas linhas acima para conseguir é que não acho que a vida a dois seja uma lei inquestionável. Não sei se o casal é a melhor forma de relacionamento. Talvez seja para muitos, mas ainda não sei se é para mim. Se cheguei aos 40 sem ter me casado ou tido filhos, não quer dizer que eu seja um egoísta ou que esteja tentando ser diferente ou que seja viado. O engraçado é que o ser humano tem a vocação pela discriminação. Seja religiosa, política, racial, sexual,futebolística, nacionalista etc. etc. Assim como o cara que nasce em Nova Iorque discrimina o que nasce no Sudão, o seu vizinho da cobertura discrima você. Vivemos nos achando melhores ou, às vezes, sentindo pena de quem é muito mais feliz do que os nossos valores enferrujados imaginam. Por isso, não discrimino quem quer viver de maneira diferente da minha. Se o cara quer casar e ter 15 filhos, ótimo. Está garantida a preservação da espécie. Mas não aceito que me digam o que devo fazer pra tentar ser feliz. Entendo a minha mãe e respeito toda educação católica que ela teve e a criação que era para o casamento. Além disso, aceito com ternura o anseio que ela tem de me ver bem, o que significa casado e com filhos. Mas confesso que é difícil explicar que sou feliz do meu jeito. Como explicar para todas as pessoas que nunca chegaram aos 40 anos solteiras e sem filhos que isso pode ser maravilhoso? Eu não fico perguntando o porquê deles terem casado cedo. Então por que devo fazer o que eles querem? Muitos já estão separados e brigam na justiça onde os amores de antanho ganham páginas e páginas de ódios cheios de razão. Mas nada disso tem a ver com a maneira que eu vivo. Não escolhi meu estilo de vida, ele aconteceu. Não existe causa ou ideal. A vida vai me levando, como dizem os poetas. Amei algumas mulheres intensamente. Aliás, conheci mulheres de todos os tipos. Teria me casado com algumas delas. Mas as que eu mais quis, não me quiseram. Pelo menos quando eu as quis. Só quiseram depois que perderam o tempo. O que posso fazer? Devo me casar para deixar o mundinho a minha volta feliz? Gente, não tenho nenhuma importância. Juro que o fato de eu ser ou não ser solteiro não vai fazer os juros caírem nem aumentar o efeito estufa. A árvore aqui da esquina da minha rua não vai ficar com menos ou mais folhas por minha causa. A oportunidade de poder estar aqui com tanta gente interessante e amiga é o que me importa. Esqueçam como eu vivo, mas não se esqueçam de mim.

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