segunda-feira, 30 de março de 2009

Os engajados

Há uns 10 anos fui à uma exposição do Miró no CCBB e achei uma porcaria. Sou um “idiota plástico” como dizia Nelson Rodrigues sobre sua ignorância em matéria de artes plásticas. A minha namorada da época, que estava ao meu lado neste fatídico dia, me deletou na mesma data e local. Só não fui linchado em praça pública porque não havia ninguém nas praças públicas. Era domingo e o Centro do Rio, para quem não sabe, é habitado nesse dia apenas por sonolentos mendigos e pelos raivosos engajados. Talvez você esteja se perguntando: “mas quem são os engajados??”. Vou tentar explicar. Os engajados não têm idade definida. O certo é que freqüentam os teatros (principalmente o Teatro Leblon), cinemas cults e/ou estudaram teatro na CAL. Julgam-se de vanguarda; odeiam o Bush; querem o Tibete livre e a liberação da maconha. Olham para os beijos de pessoas do mesmo sexo e bocejam entediados. Enfim, são liberais em tudo. Mas vai você falar mal de algum dos intocáveis deuses dessa tribo. Sim, eles são politeístas. Têm seus deuses intocáveis como Miró, Glauber Rocha, Guevara etc. etc. Mas o que vocês não sabem (ou talvez saibam...) é que essa tribo possui vários defensores entre os intelectuais da nossa elite artística. Juntos, são como uma grande seita que forma a opinião da grande maioria. Há poucas semanas atrás, quando o “casseta” Madureira disse que achava Glauber Rocha uma merda, a tribo e a elite gritaram mais que as fãs do Wando quando atiram calcinhas no obsceno cantor. Queriam crucificar o “casseta” como os fundamentalistas do islã com aquele cartunista holandês que ousou fazer piada com Maomé. Até o Arnaldo Jabor, coleguinha do Glauber da época do chatíssimo e mal produzido Cinema Novo, deu um ataque em grande estilo literário. Se o Glauber é gênio para muitos, pode ser sim uma besta para alguns. Por que não? Se essa “elite intelectual” acha Guevara mais importante que Cristo, por que um cidadão do mundo das artes não pode achar Glauber uma merda? Eu acho tudo muito chato. Todos muitos chatos também. Eu tenho os meus ídolos. Admiro muito Nelson Rodrigues, Nietzsche, Fernando Pessoa, entre outros. Mas se alguém achar qualquer um deles uma merda, tudo bem. Pelo menos o cara se interessou em conhecer as obras dos caras pra achar uma merda. Mas o que eu queria dizer, e demorei tantas linhas para conseguir, é que tenho uma péssima lembrança do Glauber por outro motivo. Certa vez fui fazer um curso de roteiro para documentário com uma das ex-mulheres do grande cineasta no Parque Laje. Cheguei na hora certinha da primeira aula e me sentei junto com os outros cinco alunos. Na introdução da aula, a distinta viúva pediu que cada um citasse seu documentário preferido. Quando chegou a minha vez, citei dois: A Janela da Alma e Edifício Master. Para meu espanto, a viúva do gênio deu um berro e clamou: “não! Não e não! Edifício Master não! É um horror! Eduardo Coutinho explora a miséria humana para ganhar dinheiro”. Foi mais ou menos isso que ouvi da ex-mulher-viúva do Glauber, acrescido do olhar de reprovação dos meus colegas de sala, que depois fui descobrir que eram os mesmos das outras duas edições do curso. Gostavam tanto que acabavam voltando. É lógico que me senti “excluído” e nunca mais voltei. Morri em 150 pratas! Maldita hora em que fui dizer que tinha gostado de “Edifício Máster”. Mas aqui, nesse blog desconhecido, longe dos olhares da nossa elite intelectual e dos "engajados", posso escrever em alto e bom som (sic): Glauber é uma merdaaaaaaaaaa!

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